Diante do farto volume de signos e símbolos que vêm sendo incorporados ao jargão corporativo,
em plena era da transformação digital, parece oportuno refletir sobre essa espécie de código
linguístico frente à razão de ser da comunicação. Levar uma mensagem a Garcia?
Só para exemplificar, tornou-se recorrente, em determinados campos da atividade profissional,
particularmente RH e marketing, cultuar um habitus eivado de significados, de conhecimento às
vezes restrito e até difuso. Entre esses, destacam-se conteúdos sintetizados em palavras como
propósito, conexão, inspiração, interação, compartilhamento etc., sem falar nos estrangeirismos.
A linguagem, como todos nós sabemos, é também um fenômeno sociocultural.
Consequentemente, reflete a dinâmica, as inquietações e as ideologias que estruturam o discurso
e as práticas relacionais, inclusive o falar no interior das organizações.
Dito isso, seguindo tendências da sociedade de consumo, observa-se que alguns vocábulos que em
determinados momentos mantiveram status privilegiado no léxico corporativo, com o passar do
tempo, foram relativizados ou caíram em desuso. Basta relembrar de palavras como qualidade,
reengenharia, mandatório etc., que antes eram in e agora são off.
Talvez por não ter o charme de idiomas mais globalizados, nossa rica língua portuguesa e de
Machado de Assis, acaba sendo vilipendiada e empobrecida, tanto no falar como na escrita
institucional. Claro que por trás do que se poderia classificar como descalabro cognitivo existe o
desconhecimento stricto sensu da nossa “Última flor do Lácio”, assim referida pelo poeta Olavo
Bilac, com todos seus encantos.
Vale dizer, ignoram-se as mais comezinhas ferramentas que estruturam sua morfologia, tais como
o uso correto de verbos, sujeito, objeto, pronomes, concordância etc.
Mas voltando ao ponto de partida ou “à vaca fria”, para os que cultuam o uso de metáforas do
senso comum, a pergunta que não quer calar é a seguinte: será que a assertividade da
comunicação está de fato garantida, quando as narrativas de perfil corporativo privilegiam códigos
linguísticos “fechados”, sociologicamente falando?
A teoria e as boas práticas de comunicação pressupõem que quem estiver na posição de
decodificador deve fazê-lo também com eficiência. Em outras palavras, o receptor precisa
apreender o que foi comunicado pelo emissor.
Para ser claro, eis aqui o propósito desse post: garantir a eficácia da comunicação corporativa e
um mínimo de reconhecimento e apreço pelo vernáculo. Por fim, é bom que as lideranças e,
principalmente os que julgam ter o dom da palavra, se conscientizem de que as profecias nem
sempre se concretizam.
Aliás, ser prolixo quase nunca traduz eficazmente o sentido do que se pretende verbalizar. E, não
raro, até enfatiza o não dito, desviando o real significado da mensagem apresentada.
Por Maroni J. Silva, sócio-diretor da Textocon