O Brasil tem uma tradição de muitos dias disso, dias daquilo etc. Alguns foram incorporados ao
calendário comercial e outros não. Ficaram fora principalmente as datas alusivas a algum sentido
que deixa transparecer um viés anti status quo, o que não é o caso de 8 de março, batizado como “Dia da
Mulher”. Quando essas datas transformam em mais um motivo para inflar as campanhas de
marketing, perde-se a oportunidade de refletir sobre os não ditos que as cercam.
Ou seja,vasculhar nas entrelinhas seu real significado e descobrir o que está por trás das representações
sociais que o estruturam, como é o caso da categoria social ou de gênero, denominada mulher,
com seus diversos status e papeis sociais.
Se observarmos a performance de um deles, o de sua participação no mercado de trabalho, sob a
ótica exclusivamente aritmética, parece estarmos em um jogo de soma zero, onde não há
perdedores. Afinal, o número de mulheres vem crescendo nas empresas ao longo dos anos no
Brasil, conforme o IBGE. Em 2016 elas ocuparam 44% das vagas disponibilizadas pelo mercado
de trabalho.
Comparativamente, as empresas onde a presença delas em posições de comando é mais significativa
há uma contrapartida em termos de resultado econômico também superior, como informa outro
instituto de pesquisa, o Peterson Institute for International Economics, cujos dados apurados
foram reproduzidos pela Revista Época. O ganho é quantificável e sua variação está
igualmente atrelada ao quantum de mulheres em uma determinada companhia. Por exemplo, onde
sua presença está na casa dos 30%, em cargos da alta hierarquia, registrou-se um acréscimo de
15% na rentabilidade da empresa. Em outras palavras, as mulheres fizeram a diferença e
agregaram valor ao resultado de suas empregadoras.
Analisando-se essa mesma realidade sob a lente da igualdade social, buscando-se estabelecer um
comparativo entre o ganho auferido pelas trabalhadoras e pelos trabalhadores, será que a
recíproca é verdadeira? Pergunta-se, mais uma vez: tomando-se como partícipes esses dois
sujeitos sociais – homem e mulher – a divisão do bolo constituído pela renda do trabalho é
equitativa?
Não há dúvida de que se as mulheres alcançaram o patamar social atual enfrentando e vencendo
barreiras e grandes desafios, pode-se dizer a priori que elas são vitoriosas e têm o que
comemorar, como observa a gestora de carreira Madalena Feliciano, da Outliers Careers. Mas em
sua opinião, elas podem conquistar muito mais ainda e dá algumas dicas sobre como enfrentar o
caminho das pedras, com inteligência emocional e social.
“Não é difícil perceber que a maioria das mulheres de sucesso são apaixonadas pelo que fazem –
e isso não é coincidência. Quando você não ama o que faz, é difícil manter-se motivado para
progredir, inovar e se destacar no mercado de trabalho” afirma a especialista.
Em termos de recompensa por esse esforço, considerando-se a igualdade entre homens e
mulheres, sua receita fundamenta-se em outra pesquisa, desta vez realizada pela economista
Linda Babcock. Os dados sustentam que a maioria dos homens, ou seja, 57%, negocia seus
salários iniciais, estratégia seguida por apenas 7% das mulheres. Traduzindo, os homens
começam trabalhando com a perspectiva de ganho salariais de 7,6% acima do valor auferido pelas
mulheres, segundo ela. E mais: “aplicando o princípio ao longo da carreira, os homens se
aposentam meio milhão de dólares mais ricos”, acrescenta Madalena.
Para mudar essa realidade, ela recomenda que, ao receber uma boa proposta de emprego, as
mulheres devem ir a campo, sem ilusão, buscando dados sobre a média salarial para o cargo
ofertado. Devem também pensar em outras alternativas de trabalho e posicionarem-se como
negociadoras de si próprias, deixando de lado possíveis indicadores de desequilíbrio, tais como
vermelhidão na face ou risadas forçadas. “Sinais que demonstrem que a mulher está nervosa
podem trai-la durante reuniões. O ideal é aprender a disfarçar esses pontos fracos ou aprender a
lidar com eles”, recomenda a especialista.
Ela também descarta perfis de liderança com viés autoritário para quem almeja um cargo de chefia.
“Já é comprovado que o modelo de líder atual que faz mais sucesso com a equipe não é o antigo
modelo “general” e sim uma espécie de “técnico de futebol”, ou seja, alguém que inspira o time,
ajuda, e conhece cada um de seus integrantes – assim como seus pontos fortes”.
Para as casadas, ela aconselha compartilhamento efetivo com o parceiro. “É importante que exista
uma boa parceria entre eles, que ela se sinta apoiada e confiante também na carreira profissional”.
E ao assumir riscos, “acreditar no ‘seu taco’ e ser grata às pessoas ao seu redor. As mulheres
bem-sucedidas, antes de tudo, acreditam em si mesmas e nas suas metas”. Por fim recomenda
“manter o foco no objetivo e não desistir depois de ouvir um (ou vários) ‘não’(s)”.