Há poucos questionamentos sobre o fato de que a construção de uma trajetória profissional bem-sucedida é composta de altos e baixos. Ou seja, aceita-se essa realidade com certa normalidade. Porém, muitas pessoas têm dificuldades para perceber e, principalmente, aceitar a ideia de que, ao remover as pedras do caminho, adquire-se também experiências que conduzem ao crescimento. Muitas vezes, esse aprendizado não só é ignorado na teoria e na prática como igualmente esquecido, de forma proposital, em algum canto da memória pessoal ou coletiva. Porém, quando bem trabalhado filosoficamente, esboça a gênese de uma capacidade de mudança até disruptiva.
É o que demonstra o percurso da executiva Monalisa Gomes, que aos 34 anos viu-se empoderada no cargo de CEO da filial brasileira da Fronius, multinacional austríaca que atua em energia solar, tecnologia de soldagem e carregadores de bateria. Afrodescendente e egressa da periferia de São Paulo, ela conta que já aos 19 anos, enfrentou um de seus primeiros grandes desafios: encontrar forças para trabalhar, sustentar e educar uma filha, o que a fez amadurecer rapidamente, ainda que com o apoio de sua mãe, dona da oficina de costura onde obtinha seu sustento.
Com muito esforço, ela conseguiu se tornar bacharel em Ciências Contábeis e fez MBA em gestão financeira, controladoria e auditoria pela Fundação Getúlio Vargas. Foi esse capital intelectual que lhe deu respaldo para atuar na Fronius, onde trabalhou dez anos como controller, antes de ascender ao cargo atual de CEO, por reconhecimento e mérito, certamente.
Atribui seu sucesso à persistência, preparo técnico, profissionalismo e capacidade de resistência a pressões institucionais inerentes ao ambiente corporativo. Acredita nos valores da cultura da empresa que diz ser “humana” e “familiar”, mas também admite que “as mulheres são testadas a todo momento”. Por causa disso ela recomenda entregar os resultados sempre com antecedência sem jamais se deixar abater por preconceitos de raça ou de gênero. Da mesma forma, recomenda inteligência emocional para lidar com conflitos, prezando sempre as relações, inclusive familiares, e os laços de amizade. Por fim, defende atitudes que busquem equilibrar três papeis sociais distintos – “mulher, mãe e trabalhadora” – mas que estão imbricados, culturalmente.